quarta-feira, maio 21, 2025

Vietname, 30 de Abril de 1975, - Por Albano Nunes - O que de­cide do rumo da His­tória é a luta e a so­li­da­ri­e­dade

Vietname, 30 de Abril de 1975
Albano Nunes

O que de­cide do rumo da His­tória é a luta e a so­li­da­ri­e­dade

Há acon­te­ci­mentos que deixam na His­tória sulcos tão pro­fundos que nem a sua de­li­be­rada ocul­tação pela classe do­mi­nante nem a pas­sagem do tempo con­se­guem apagar. A der­rota do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano no Vi­et­name, con­su­mada em 30 de Abril de 1975 com a to­mada de Saigão pelas forças de li­ber­tação vi­et­na­mitas e a sub­se­quente uni­fi­cação do Vi­et­name (Julho de 1976) sob a ban­deira do so­ci­a­lismo, é um desses acon­te­ci­mentos. As­si­nalar o 50.º ani­ver­sário do “Dia da Li­ber­tação” do Vi­et­name é render ho­me­nagem a um povo que re­sistiu vi­to­ri­o­sa­mente a uma das mais cruéis agres­sões que a his­tória re­gista.

No Vi­et­name, e também no Laos e no Cam­boja, os EUA co­me­teram os crimes mais mons­tru­osos. Do bom­bar­de­a­mento e in­cêndio de po­vo­a­ções à uti­li­zação em massa do na­palm, bombas de fós­foro e ou­tras armas quí­micas proi­bidas, tudo foi usado para tentar su­focar a re­sis­tência po­pular ge­ne­ra­li­zada a uma di­ta­dura fan­toche e à ocu­pação es­tran­geira. O re­curso à arma nu­clear chegou a ser con­si­de­rado.

De­pois da ex­pulsão em 1945 do ocu­pante ja­ponês, da fun­dação no Norte do país de um Es­tado so­ci­a­lista e da de­fi­ni­tiva der­rota do co­lo­ni­a­lismo francês na his­tó­rica ba­talha de Dien Bien Phu (1954), os EUA, na sua es­tra­tégia de “con­tenção do co­mu­nismo” e vi­sando subs­ti­tuir a França na co­lo­ni­zação da In­do­china, vi­o­laram os acordos de Ge­nebra que re­co­nhe­ciam a so­be­rania, uni­dade e in­te­gri­dade ter­ri­to­rial do Vi­et­name e ato­laram-se numa guerra de agressão ge­no­cida que chegou a en­volver mais de meio mi­lhão de mi­li­tares no ter­reno. Mas nem essa mo­bi­li­zação de força mi­litar sem pre­ce­dentes, nem o sis­te­má­tico bom­bar­de­a­mento de todo o ter­ri­tório do Sul e de Hanoi, Haiphong e de ou­tras ci­dades da então Re­pú­blica De­mo­crá­tica do Vi­et­name, con­se­guiram su­focar a he­roica re­sis­tência po­pular or­ga­ni­zada e di­ri­gida pelo Par­tido Co­mu­nista do Vi­et­name.

No Vi­et­name, a maior po­tência im­pe­ri­a­lista e a mais po­de­rosa e de­su­mana má­quina de guerra foi der­ro­tada. E hu­mi­lhada. A ver­go­nhosa de­ban­dada final dos agres­sores, um au­tên­tico “salve-se quem puder”, está bem do­cu­men­tada nas co­nhe­cidas ima­gens dos he­li­cóp­teros re­co­lhendo norte-ame­ri­canos e la­caios vi­et­na­mitas fu­gi­tivos pelo te­lhado da Em­bai­xada dos EUA em Saigão. Uma der­rota que abalou a pró­pria elite di­ri­gente norte-ame­ri­cana (o cha­mado “sín­droma do Vi­et­name”), mas que so­bre­tudo con­firma que, por mais po­de­roso que seja o ini­migo é pos­sível re­sistir e vencer.

No caso do Vi­et­name, a vi­tória evi­den­ciou a ex­tra­or­di­nária uni­dade, co­ragem e cri­a­ti­vi­dade de todo um povo, do Norte so­ci­a­lista e do Sul ocu­pado, em que os ob­jec­tivos de li­ber­tação na­ci­onal e de eman­ci­pação so­cial se deram as mãos sob a di­recção do PCV e do seu fun­dador, o Pre­si­dente Ho Chi Minh, per­so­na­li­dade his­tó­rica ci­meira do mo­vi­mento co­mu­nista in­ter­na­ci­onal. Uma vi­tória que contou com o mais po­de­roso mo­vi­mento de so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­onal do pós guerra e que teve nos pró­prios EUA uma ex­tra­or­di­nária di­mensão, com a mas­siva par­ti­ci­pação da ju­ven­tude.

Nestes tempos de re­sis­tência que vi­vemos, a vi­tória do povo vi­et­na­mita sobre a mais po­de­rosa po­tência ca­pi­ta­lista do mundo contém uma men­sagem de con­fi­ança muito forte: o que em de­fi­ni­tivo de­cide do rumo da His­tória é a luta dos tra­ba­lha­dores e dos povos e a força da so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista.

Publicado em: Avante - 30.04.2025
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